Plenamente
De repente, eu surjo, assim, do nada. Como quem nunca antes tivesse aberto os olhos. Como quem desperta pela primeira vez. Confusa, sem saber de onde vim e pra onde irei. Daí, sinto o calor do teu corpo ao meu lado, e começo a recobrar a consciência. Fui embalada pelos teus braços e acometida por teus beijos, enquanto você me dizia aquelas palavras típicas de amantes apaixonados, essas palavras das quais a gente desdenha quando tem o coração vazio, pois, para além de comprendê-las, é preciso senti-las. O tempo se dissolveu aos poucos, até que o mundo se transformou em um recorte do espaço, imóvel e intacto, e eu adormeci. Um sono com cara de inexistência, como se eu tivesse sido suspensa da vida por algumas horas. Um sono de paz profunda, sem sonhos, pesadelos ou qualquer outro tipo de (in)consciência.
Estranha essa sensação de acordar como quem acaba de nascer. Não que eu me lembre das emoções que tive ao sair da barriga de minha mãe, mas acredito que o nascimento seja o mais próximo possível do que senti quando despertei ao seu lado. Mas se eu nasci, qual foi o ventre que me abrigou, quem é meu pai, quem é minha mãe? Você? Eu mesma? Não. Eu nasci dos instantes de carinho, dos sorrisos e olhares, das conversas e até dos silêncios. Eu nasci desse espaço entre nós, preenchido por milhares de moléculas de pequenas lembranças e gestos e, sobretudo, por essa vibração magnética. Eu nasci de dentro de mim e de dentro de você. Eu nasci do nosso amor, disso que a gente tenta definir e não tem definição, apenas é.